PRETÉRITO IMPERFEITO DE TERRITÓRIOS MÓVEIS é uma pesquisa experimental sobre a visualidade dos álbuns de Redes Sociais e sobre as possibilidades de transposições de imagens do meio virtual para o físico. As experimentações se dividiram em duas linhas cujo enfoque se deu no uso interativo da fotografia com dispositivos online que abordam o rosto como território e territórios como rostos/caras de pessoas, de lugares. É no rosto, e até na ausência dele, que se situam as séries EGOSHOT, BIOSHOT e THERE’S NO PLACE LIKE 127.0.0.1, respectivamente.
São os disparos (SHOTS) de câmeras fotográficas em diferentes tipos de superfícies fotográficas (PLACES), que determinaram a titulação das séries, e ter adotado palavras em inglês não se deu à toa, pois são elas que mais abrem as portas dos ambientes digitais, e daí considerá-las não só como palavras-chaves , como também espécies de imagens-territórios.
A chamada WEB 2.0 permite que qualquer usuário estabeleça sua própria maneira de se relacionar com textos, sons e imagens, criando ele mesmo seus deslocamentos, apropriações, paródias e outros tipos de procedimentos restritos antes ao campo das artes.
Fotografando as projeções de ambientes virtuais em paredes, escadas, portas, reflexos em vidros e espelhos dos territórios íntimos, se estabeleceu uma conexão com algo que vai além da mera apropriação, por se tratar de fato de algo muito próximo do exercício da alteridade. Apropriando-se das imagens de terceiros (no duplo sentido: imagem do corpo e do espírito do outro através do seu olhar) e misturando-as com meus objetos, cenários e até os maneirismos artísticos pessoais, de certa forma mistura-se algo de si a elas e vice-versa, como um diálogo sem palavras, um jogo de espelhos. Ter se colocado no lugar desse outro ‘eu’ se experimentou um pouco do jogo de Alice de Lewis Carroll, onde brinca-se que o ‘eu é um outro’ (‘I ist an other’ ou ‘je est un autre!’) assumindo a forma invertida de conjugar a própria imagem que se reflete no corpo, no rosto e no olhar do outro, nesse sujeito anônimo e desconhecido que se expõe na web sem reservas como se fosse íntimo.
Trata-se, de fato, de um trabalho de apropriação de algo que geográfica e fisicamente estava inacessível para mim, mas ao representar mundos e pessoas da forma como proponho em Pretérito Imperfeito convido novos observadores a visitarem imagens-territórios como se eles de fato existissem através da forma como eu os enxerguei. Não há nada de extraordinário nas imagens, nenhuma inovação tecnológica, proposta ideológica revolucionária, e trata-se antes de uma tentativa de dar a ver como as nossas ferramentas, idéias, comportamentos e artefatos são manipuláveis e investidos de significados múltiplos. Talvez uma constatação para a frase ‘o verdadeiro ato da descoberta não consiste em descobrir novos territórios, mas, sim, vê-los com novos olhos’ de Marcel Proust.
Se a fotografia ajudou a construir as muitas versões do que seja o mundo para nós, é mais do que natural que esse imenso banco de imagens que hoje se encontra online se pareça tanto com um vasto e novo território para constantes descobertas, assim como outros lugares o foram no século XIX por ocasião do surgimento da fotografia. São estas palavras-imagens, e esse passado quase imediato de contorno imperfeito e de pretérito inconcluso que mais me intrigam hoje.
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